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Sabores do Mediterrâneo

Sabores do Mediterrâneo

19
Ago25

Um pequeno guia de como cozinhar peixe

Vânia

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Hoje vou partilhar como cozinho e preparo os peixes que mais consumimos em casa, usando alguns dos truques do meu avô Manel, que marcou profundamente a minha relação com este alimento.

Confesso que, apesar de ser algarvia, nunca fui grande fã de cozinhar peixe. Sempre achei que o peixe é exigente, pedindo atenção e sabedoria. Mas a verdade é que cresci rodeada de peixe fresco e de histórias que o transformavam numa experiência quase mágica.

O meu avô materno, o meu querido avô Manel, era comerciante de peixe. Na casa da minha mãe nunca faltou peixe fresco. Ele trabalhava até muito tarde, carregando o peixe na sua mota e garantindo que o produto chegava perfeito aos clientes. 

O meu avô sabia todos os truques para escolher e cozinhar o peixe de forma perfeita. Era um cozinheiro de mão cheia e a minha mãe herdou esses saberes, e hoje eu tento absorver para aprender com eles, para trazer à mesa da minha família pratos simples, saborosos e cheios de história.

 

Sardinha

A sardinha é peixe de verão e pede simplicidade: apenas sal grosso e brasa. Não é necessário tirar as entranhas — é assim que se mantém o sabor autêntico.

No fogareiro: cerca de 3 a 4 minutos de cada lado, até a pele ficar tostada.

Na air fryer: também funciona bem, a 200 °C por 6 a 8 minutos, mas a sardinha ganha outra vida mesmo é no carvão.

 

Carapau

O carapau, tal como a sardinha, ganha sabor quando assado inteiro, sem retirar as entranhas. Essa gordura ajuda a manter a carne suculenta.

No fogareiro: 4 a 5 minutos de cada lado.

Pode ser temperado apenas com sal e servido com salada de pimentos assados.

Na air fryer ainda não experimentei, mas por ser um peixe menos gordo pode secar facilmente.

 

Cavala

A cavala é um peixe muito saudável, rico em ómega-3, mas que pode ficar seco quando grelhado ou assado. Por isso, para mim, a melhor forma de a preparar é cozida.

Limpar o peixe, retirando as entranhas.

Deixar a água ferver com um ramo generoso de orégãos.

Temperar a cavala diretamente com sal grosso.

Quando a água estiver em plena fervura, colocar o peixe e deixar cozer por 8 minutos.

O resultado é uma carne firme, aromática e saborosa, que combina na perfeição com batata cozida, legumes ao vapor ou uma salada fresca

 

Abrótea

A abrótea é para mim o “peixe dos doentes”. O meu avô costumava prepará-lo para a minha mãe quando estava doente, e até hoje guardo essa forma de carinho comigo. É um peixe branco, de sabor suave e textura delicada, que praticamente se desfaz na boca.

Descongelar antes de cozer: mergulhar o peixe em água abundante com sal, uma cenoura descascada e meia cebola. Este processo ajuda a firmar a carne, eliminar odores e zonas amareladas. Deixar a descongelar dentro desta água com a cenoura e a cebola.

Cozer em água: depois de descongelado, colocar em água a ferver e deixar cozinhar por cerca de 8 minutos.

O resultado é um peixe leve, nutritivo e de fácil digestão — talvez por isso tenha ficado associado ao cuidado, ao mimo e à recuperação.

 

Pescada

A pescada é um peixe branco, delicado e de sabor suave, ideal para refeições leves.

Cozida descongelado ou congelada: colocar a pescada em água com sal, um dente de alho esmagado e uma folha de louro. Deixar cozinhar cerca de 8 minutos, dependendo do tamanho do peixe. Depois de cozida, servir temperada com azeite e limão.

No forno já descongelada: regar o peixe com azeite, pimenta e limão.

Escolher uma erva aromática, como tomilho, salsa ou coentros, e levar ao forno a 180 °C por cerca de 15 a 20 minutos, até cozer rapidamente, sem ressecar a carne.

 


Tamboril

O tamboril é um peixe de carne firme, ideal para pratos como o arroz de tamboril.

No arroz: usamos normalmente tamboril já descongelado no frigorífico. Colocar o peixe apenas quando o arroz estiver quase cozido, pois demora pouco tempo a cozer — cerca de 6 minutos.

É importante não deixar passar do ponto, para que a carne se mantenha firme e suculenta.

 

Cada um destes peixes traz consigo não só um sabor, mas também uma memória — da minha infância, da cozinha da minha mãe e dos ensinamentos do meu avô Manel. Cozinhar peixe, para mim, é mais do que preparar uma refeição: é honrar uma herança de simplicidade, respeito pelo alimento e ligação à família. Talvez eu nunca venha a cozinhar como o meu avô ou a minha mãe, mas cada vez que preparo uma sardinha, uma cavala ou uma pescada, sinto que continuo a sua tradição e passo adiante um pouco dessa história à minha filha. Afinal, no prato não está apenas o peixe, mas também o afeto e as raízes que nos alimentam.

 

 

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